O rock e o uso abusivo de substâncias nos anos 70 a partir de Daisy Jones e The Six

Entre vícios e abuso de substâncias temos uma trágica história sobre a realidade do rock

O cenário do rock nas décadas 60 e 70, foi marcado pelo consumo abusivo de entorpecentes por parte de seu público, resultando em tragédias que abalaram o mundo da música. Essa realidade ganha vida no romance “Daisy Jones & The Six”, que retrata a história de uma banda de rock fictícia durante os anos 70, situado em Los Angeles. A narrativa é construída a partir de uma entrevista com os sete membros da banda, permitindo que eles compartilhem suas experiências ao longo dos anos de sucesso. Envolvidos em um estilo de vida caracterizado por “sexo, drogas e rock’n roll”, os personagens enfrentam desafios complexos ao equilibrar a fama, a ambição, os vícios e as rivalidades na indústria musical.

Uma das personagens centrais é Daisy Jones, uma “It Girl” dos anos 70 com várias dependências químicas. Desamparada e negligenciada pela família, ela encontrava apoio apenas em Simone, sua melhor amiga, e em suas letras, transformando sua frustração em música. Com o sucesso da banda, Daisy se torna uma inspiração para diversas garotas “descoladas” com seu carisma e ar de completa liberdade. Porém, ao longo do tempo ela questiona constantemente o papel das mulheres na cultura do rock, rejeitando o rótulo de musa e afirmando sua individualidade. Em suas próprias palavras “Eu não sou a musa. Eu sou alguém. E esse é o fim da história”.

Desde a adolescência, Daisy se envolve com drogas, frequentando ambientes inadequados para sua idade. Ela busca uma maneira de preencher a solidão e a monotonia de sua vida. No entanto, diferentemente de muitas representações artísticas, o livro retrata o uso abusivo de substâncias de forma realista, sem glamourizar o tema. Durante a entrevista, Daisy admite ter sido usuaria de diversos alucinógenos por muitos anos, e relata episódios perturbadores, como incendiar um quarto de hotel sob o efeito de drogas. Ela revela que usava as drogas como uma forma de fugir de seus sentimentos e escapar da realidade. Após enfrentar um relacionamento abusivo com Niccolo, onde era pressionada a usar drogas mesmo contra sua vontade, Daisy percebe que as substâncias apenas amplificavam seus problemas e decide buscar ajuda para se tornar sóbria. Depois de um período afastada, ela redescobre sua sanidade e compreende que as drogas eram apenas uma válvula de escape temporária. 

Com o sucesso da banda, ao longo da história, os personagens passam por momentos conflituosos ao equilibrar a vida pessoal, a relação entre Daisy Jones e Billy Dunne, líder da banda “The Six”, é um tanto quanto conturbada, ambos dividem vícios e intrigas que surgem dentro do grupo pela falta de comprometimento dos dois devido a suas dependências. Billy Dunne é um rockstar casado, com problemas de alcoolismo. Sua carreira teve início pela afinidade que Billy e seu irmão Graham Dunne tinham com a música. 

Durante os capítulos, fica claro os problemas que Billy enfrentou com a ausência de uma figura paterna, já que o pai dos irmãos Dunne os abandonou, refletindo diretamente em suas ações ao se tornar uma estrela de Hollywood. Apesar de ser um personagem de gênio forte, e que causava pequenas intrigas dentro da banda, Billy ainda é um personagem muito querido pelo público. 

E mais uma vez a autora lida com questões sérias sem romantização. Billy apresenta diversos episódios onde o álcool é sua principal fuga, resultando em episódios problemáticos que o levam a buscar tratamento e reabilitação. Billy descreve o álcool como uma fonte de satisfação, mas, como muitas estrelas do rock, ele também de envolve com outras substâncias. Em uma de suas músicas, intitulada, “Please”, ele desabafa sobre deus vícios, e como tem lidado com isso, faz uma metáfora sobre a tentação que não consegue enxergar, sobre ser um homem que tem uma família, e como isso pode acabar com seu relacionamento.

Embora “Daisy Jones & The Six” seja uma obra de ficção, ela retrata uma realidade que também atingiu muitos artistas fora das páginas. Como Hilllel Slovak (guitarrista do Red Hot Chili Peppers) e Paul Gray (baixista do Slipknot) que não tiveram a oportunidade de mudar seus hábitos, e acabaram perdendo a vida por conta disso. Por muitas vezes, o uso abusivo de drogas está atrelado a intensa rotina de shows, podendo ser um combustível para a criatividade, ou, preenchendo uma carência por conta da rotina solitária. Entretanto, o uso excessivo de entorpecentes atinge todas as camadas da sociedade, embora seja mais visível nos ícones, devido a atenção da mídia. Os ambientes frequentados por grandes estrelas também são fatores que contribuem para o uso de drogas, com festas e encontros repletos de maconha e cocaína, despertando a curiosidade de experimentar outras substâncias que possam proporcionar reações diferentes, criando uma realidade paralela que parece confortável. Tanto artistas do rock quanto de outros gêneros conseguiram superar seus vícios, e alcançar a sobriedade por meio de tratamentos, deixando para trás a dependência química. Entretanto, as recaídas são frequentes, e muitos acabam perdendo seus meses que poderiam ser considerados “limpos”, então, optam por casas de reabilitação, como Eddie Van Halen, onde recebem acompanhamento profissional para garantir uma recuperação mais controlada.

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