Saudade da comodidade

Entro no aeroporto, o relógio marca quatro e cinco da manhã. Tudo bem, meu atraso é leve. Vou até o balcão do check-in quinze minutos antes de acabar. Despacho minha mala. No Aeroporto de Pinto Martins, aqui no Ceará, não tem muitos restaurantes abertos e nem muitos restaurantes. Tomo um café com leite, conto os segundos para minha chegada, mas ainda faltam quatro horas.

Entro no avião, o relógio marca cinco horas da manhã. Um sentimento de lembrança aparece. Eu lembro do Sol do meio dia, das belas praias, dos ventos que balançam as palmeiras, do cheiro bolo de laranja da minha avó nos domingos, de pescar com meu avô nas férias de verão, de discutir com minha sobre os rumos de minha vida e da profissão que escolhi, do meu cachorro Bob, das festas feitas por mim e por meus amigos na casa de Laura, da minha cama e da foto logo acima da cabeceira. Lembrança da calmaria de um tempo bom.

A poltrona do avião percebe que daqui minutos já não serei o mesmo, as janelas já sentem minha distancia e os caminhos já não escutam minha voz. Por um segundo, penso em desistir de algo que é mais forte. Porta fechada, não tem mais tempo para desistir. Me sento na janela e o cenário de filme me é nostálgico, mas o roteiro me interessa.

Não penso mais no meu futuro. Por tempo, prefiro me concentrar no medo de voar. Respiro forte, uma (grande pausa), duas (média pausa), três vezes… minha terapeuta estaria orgulhosa. Falando em Tânia, terei de aprender a não passar minhas tardes de terça-feira com ela, discutindo sobre o imprevisível em meio ao caos.

Acordo – sim, eu caio no sono com a facilidade que um recém-nascido dorme – e falta uma hora para chegar. Chegar no novo, no desconhecido. Chegar na cidade que não para…. São Paulo. Tanta gente, não sei se vou aguentar. Me levanto devagar e me perco desses sentimentos angustiantes. Vou até o banheiro. O pequeno espelho me mostra uma nova pessoa. Não me entendo. Amarro o cabelo e simplesmente saio.

– Por favor moça, poderia pegar minha bolsa ali em cima?

– Claro. Seus cabelos de fios brancos revelam aprendizado na raiz e conhecimento nas pontas.

– Você tem brilho nos olhos

Ela me encara.

– Ana, seu brilho tem dois caminhos.

– Senhores passageiros, estamos prontos para aterrisagem.

A voz do além anuncia no meio daquela conversa que estava prestes a revelar o pior impedimento do meu sonho de mudar de vida.

– Acho que sei quais são. O primeiro é meu futura. A outra, minha senhora, é ela, a saudade. Saudade da certeza do cotidiano.

Para todos aqueles que um dia deixaram suas famílias e amigos para traz, em busca de um sonho na cidade grande.