O Brasil se apaixona por mais um futebol

O futebol americano no Brasil saiu das praias e chegou até o campeonato mundial, conquistou seu espaço entre os esportes no país e carrega uma cultura de garra e fraternidade entre os atletas. Estratégia, força, velocidade, mente e corpo conectados, eles estão indo além da endzone do time adversário para vencer não só a partida, mas ganhar território no cenário esportivo brasileiro. 

O esporte surge com muita força no nordeste do país e é da Paraíba que vem o campeão nacional dos anos de 2015 e 2019, João Pessoa Espectros. “Quando comecei a jogar, era sem equipamento e na praia, não tinha nenhuma idéia de que chegaria tão longe. Lembro que meu sonho era jogar no estádio aqui da capital, só com equipamentos, nem precisava ter público, e em 2015 fui campeão brasileiro neste estádio, na frente de 7,5 mil pessoas”, conta Igor Nery, jogador e treinador do time.

O processo para ingressar em um time passa pelo try out, em que são realizados testes físicos para medir velocidade e força dos candidatos, também são feitas avaliações de performance mental e de conduta. Após a elaboração de um perfil para cada atleta, eles são designados às posições em que mais se encaixam. 

A seleção brasileira de futebol americano, conhecida como Brasil Onças, foi fundada em 2007 e esse avanço recente permitiu o início das participações do Brasil nos campeonatos mundiais. “Conheci 3 países e um deles o EUA. Eu disputei o campeonato mundial de futebol americano na primeira partição do Brasil”, diz Igor, que classificou a experiência como indescritível.

Os jogos funcionam com 11 jogadores de cada lado do campo, em um revezamento entre as linhas de defesa e ataque, somando ao todo 53 atletas para cada time. No ataque atuam o quarterback, os bloqueadores, os corredores e os recebedores. O jogo também conta com linha defensiva, os linebackers e os jogadores que protegem a retaguarda. A pontuação é dividida em touchdown (6 pontos), field goal (3 pontos) e extra point (1 ponto).

“Eu iniciei no esporte por curiosidade, que acabou virando uma paixão. Hoje eu digo que é amor. Pelo esporte, pelo meu time e pelas pessoas que nos apoiam”, comenta Raphael Martins, linebacker do João Pessoa Espectros, e acrescenta: “Apesar de não ser fácil, nesse esporte você precisa aprender a amar todo o processo. Isso faz parte da cultura do João Pessoa Espectros. Então, a melhor coisa para mim é poder estar com os meus irmãos procurando melhorar a cada domingo”.

Uma partida de futebol americano é composta por quatro períodos de 15 minutos, com um intervalo após os dois primeiros tempos. O cronômetro é pausado em algumas ocasiões como em faltas, quando, após um lance, a bola toca o chão antes de ser recebida ou se o jogador com a bola cruza a linha lateral do campo. Em casos de empate, mais 15 minutos são acrescentados ao jogo e vence o primeiro time a marcar um touchdown.

Com as conquistas recentes, a expectativa dos atletas é de que o esporte ganhe cada vez mais destaque no contexto nacional. Lucas Adolfo, runningback pelo Recife Mariners e Head Coach do Mariners Development, comenta sua visão sobre cenário atual: “Acho que se continuarmos no caminho certo temos muito a crescer. Precisamos de tempo e de boas pessoas gerindo esse esporte no nosso país. Em mais ou menos 15 anos, saímos de jogos sem equipamento na praia para jogos em arena de copa do mundo, com transmissão da ESPN, participação no Mundial, etc”.

A competitividade, o amor pelo esporte e a dedicação em melhorar a cada dia impulsionam os jogadores. “Nesse esporte vence quem quer mais, tem que querer treinar mais que todos, dormir melhor pra se recuperar e se alimentar melhor que todos”, conta Igor Nery e conclui: “Estou entre os melhores do país nos últimos 6 ou 7 anos, e sei que no final das contas ninguém lembra quem está no segundo lugar, vencer é vencer”.